quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Artigo: Penápolis para as Crianças

As crianças, quando bem cuidadas, são uma semente de paz e esperança 
Zilda Arns Neumaan, em sua última conferência, realizada no Haiti, em 2010. 


Investir na infância é responder ao presente e, simultaneamente, lançar as bases do futuro. Priorizar a infância, no conjunto de muitas outras demandas, é uma estratégia inteligente para obter ganhos sociais e econômicos superiores aos gerados por qualquer outro investimento. No entanto, para as crianças, mais importante do que preparar o futuro é viver o presente. Elas precisam viver agora e na forma mais justa, plena e feliz. Se a infância, segundo o verso de Péguy, é o tempo das silenciosas preparações, uma vez que, a crianças é o pai do homem, ela é igualmente, o agora, como poeticamente a definiu Gabriela Mistral: para elas não podemos dizer amanhã, seu nome é hoje.
A ambivalência da infância – presente e futuro – exige que cuidemos dela agora pelo valor de sua vida presente e, simultaneamente, mantenhamos o olhar na perspectiva do seu desenvolvimento rumo à plenificação de seu projeto de existência.
Em que pese ser a criança prenúncio e preparação da vida adulta – e esse sentido de crescimento exerça fascínio, fundamente esperanças e arregimente investimentos na primeira infância – é necessário ver, também, na criança um valor em si mesma.
A infância constituiu uma etapa da vida com sentido e conteúdo próprios. Adultos inteligentes, criativos, empreendedores, com ampla flexibilidade mental, são antes consequência que objetivos da ação nos primeiros anos de vida. Por isso, não olhemos para as crianças na perspectiva do adulto que desejamos que sejam, mas como cidadãs, sujeitos de direitos enquanto crianças. Entendê-las como pessoas em desenvolvimento implica conferir plenitude ao momento da infância por ela ter sentido em si mesma e, adicionalmente, nessa mesma dinâmica, situá-la num processo de formação cuja meta é o sempre mais adiante.
Se, de uma parte, é confortante imaginarmos um cenário ao alcance de nossa própria vida, de pleno desenvolvimento de nossas crianças, de outra parte, é imperioso construí-lo diariamente, persistentemente. Sonho de futuro sem ação no presente é ficção, é alienação e projeção irresponsável. Ao contrário, a ação hoje, inserida na perspectiva daquele cenário, impregna de dignidade o hoje de nossas vidas.

Alexandre Gil de Mello, advogado, 
membro da Rede CAAS (Crianças Amadas, Adultos Seguros). 

Um comentário:

  1. Preparamos as nossas crianças para que futuramente possam assumir e renovar esse lugar que lhes será legado. Vale a pena "apostar" nelas e se empenhar em sua transformação.
    Cada criança é uma nova possibilidade para o mundo.

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