sábado, 7 de janeiro de 2012

Afinal, o que seria mesmo o “colo”?


Quando pensamos em dar colo a um bebê, logo imaginamos aquele colo gostoso que mesmo quando grandes gostamos de ter. Portanto, o colo de hoje, quando completo de carinho, afeto, amor e atenção, é tão bom quanto foi o mesmo quando éramos bebês.

Mas tem “colos” e “colos”, por exemplo: Alguém já vivenciou a experiência de pedir um colinho para alguém e a outra pessoa dizer mais tarde eu dou, ou então de deitar no colo da pessoa e ficar esperando um contato visual, um “cafuné”, um sorriso e na verdade perceber que só teve ali algo físico sem contato íntimo de troca?

Por isso que abro aqui espaço pra poder discutir outro tipo de colo, não só esse onde às vezes emprestamos nossos braços para o bebê, ou nossas pernas para alguém se deitar, quero ir mais além, penso aqui no colo que talvez estejamos esquecendo de falar, o colo psicológico. Realmente não ouvimos com muita freqüência essa expressão, mas esse colo existe, e é muito importante para nosso desenvolvimento inicial de vida e também por toda a nossa história.

Falar desse colo psicológico é ir além do segurar o bebê, ou então dar o peito, é sim aprofundar mais nessa relação, proporcionando um contato íntimo entre você e o bebê, com troca de olhares, carinhos, palavras amorosas, toque suave, sorrisos e respeito pelo momento do bebê e também da mãe.

Ampliamos ainda mais, o colo deve ter braços mais longos, com o pai que vai dar um colo também para essa mãe e para o bebê; ele é figura cada vez mais importante e necessária nessa relação, onde o clima dessa família vai proporcionar esse colo físico e psíquico com mais qualidade.

É necessária a existência de um espaço de potencialidades de desenvolvimento. Freqüentes conflitos conjugais, a irritabilidade e o desrespeito, quando evidentes e predominantes, não permitem que ocorra esse espaço potencial. Uma mãe com problemas ou uma família em “guerra” poderá ter dificuldade em oferecer esse colo. Segundo os pesquisadores Piccinini, Seidl de Moura, Ribas, Bosa, Oliveira, Pinto, Schermann & Chahon (2011), as interações se constituem em interjogos entre parceiros onde um influencia o outro em um processo contínuo de desenvolvimento, a partir de mecanismos de regulação recíproca. Dessa forma o vínculo deve ser estabelecido não apenas com o bebê, mas também entre o casal, sendo a família um espaço para oferecer o colo, mas também ter ali uma fonte de recebimento de todo essa afeto.

Não podemos esquecer, conforme relata Maldonado (2000), que a fase do puerpério faz parte do ciclo vital, onde se encontra um período propenso a crises, por causa das mudanças físicas e psicológicas. Para Winnicott (1978), a mãe entra em um estado especial denominado “preocupação materna primária”, em que ocorre um estado de sensibilidade aumentada, cujo objetivo é capacitar a mulher a se preocupar com seu bebê. É uma fase de mudanças e muitas vezes a mãe não é compreendida nesse aspecto mais amplo de mudanças e muitas vezes cobranças.

Contextualizei essa fase para pensar novamente no “colo”, no colo que o bebê precisa, mas também no colo que a mãe recebe, no pai que alonga esses braços para acolher também. Vamos pensar naquele momento em que o bebê está nos braços, e, sem perceber, o olhar da mãe está voltado para a TV ou fazendo outra coisa. O bebê vai esperar o olhar da mãe, o toque e a fala. Não podemos esquecer também do colo que a mãe espera depois de colocar o seu bebê para dormir, um "colinho" gostoso com palavras doces, olhar suave, compreensão e carinho. Assim, poderemos falar do “colo” em seu aspecto mais amplo, físico e emocional, o amor não vem apenas pela via física, mas de outras maneiras muitas vezes esquecidas.

Lucas Bondezan Alvares, psicólogo. 
Membro da Rede CAAS e do Grupo de Trabalho Humanizado da Santa Casa de Penápolis. 

Um comentário:

  1. Adorei! Alguns dias a gente pensa "já dei mamá,já troquei a fralda, já dei banho, o que mais que ele quer?" amor! um colinho cheio de amor! um contato próximo para além das necessidades FÍSICAS, afinal, todo bebê precisa de muito amor e carinho!

    Beijos, Má Peters, mãe do Miguel, quase 4 meses!

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