“A mãe era desse jeito: só ia em missa das cinco, por causa de os gatos
no escuro serem pardos....
Sofria palpitação e tonteira, lembro dela caindo na beira do tanque, o
vulto dobrado em arco, gente afobada em volta, cheiro de alcanfor... Era a
mulher mais difícil a mãe. Difícil, assim, de ser agradada. Gostava que eu
tirasse só dez e primeiro lugar. Pra essas coisas não poupava, era pasta de
primeira, caixa com doze lápis e uniforme mandado plissar. Acho mesmo que meia
razão ela teve no caso do relógio, luxo bobo, pra quem só tinha um vestido de
sair”... Adélia Prado
O segundo domingo de maio, é data especial,
principalmente para lembrarmos as inúmeras expectativas que recaem sobre as
mulheres, as mães.
Têm de ser gentil, têm de ser amorosa, têm de ser
feminina, têm de ser perfumada, têm de... quantas regras e tarefas a serem
cumpridas...
Além de tudo isso, ainda têm de acreditar que um
dia, apenas um dia é suficiente para a homenagem.
Para Adélia Prado, premiada poetisa mineira, a
mãe é real e, ainda assim, desejada e lembrada. Envolta em papel de seda como a
proteger sua imagem ela a descreve, sem enfeite nenhum, mas com a concretude, a
importância e a certeza incontestável de ter, para sempre, seu registro n’alma.
As ciências sociais nos apresentam o papel de mãe
como algo a ser construído no tempo de convivência, razão pela qual, as mães que
não deram à luz são tão definitivas quanto às demais. Sentimentos
contraditórios, distanciamento afetivo ou dificuldades em demonstrar
sentimentos também estão presentes nas relações entre a mãe e sua prole.
Não tem sido diferente com as mães que recebemos
no Projeto “Crianças Amadas, Adultos Seguros”. As mães atendidas são mulheres
que trabalham, mulheres que “desmaiam”, mulheres que sonham ver seus filhos
brilhando ou têm apenas um vestido de sair.
Todas tiveram mães e um sem número delas também
desejou ser melhor acolhida, ser olhada, ser cuidada. Um sem número delas
também precisou de peito, de colo e de limites. Um sem número delas foi
abandonada, castigada, desprezada. Um sem número delas também sonhou, brincou
de bonecas, nem sempre uma Barbie, mas a que era possível ter (de sabugo de
milho ou de plástico comum). E, hoje, temos o desejo de que elas deem aos seus bebês
o que nunca receberam, o que não conheceram, o que não lhes foi ensinado pelo
exemplo.
Essas são as mulheres que queremos lembrar neste
Dia das Mães: as mulheres que se tornam mães e que, aceitam serem orientadas,
enfrentam os desafios da realidade inóspita e se reconhecem acolhidas quando
alguém lhes diz “ouça as batidas do coraçãozinho do seu bebê”, “cuide para que
a água esteja morna quando for dar banho no bebê”, “ofereça o peito ao seu bebê
sempre que ele quiser, pois o leite materno é a melhor forma de alimentar,
proteger e amar o seu bebê”. Essas mulheres que chegam à maternidade, cheias de
medos e, ao serem acolhidas pelos profissionais e pelo acompanhante (nem sempre
o pai da criança) aprendem que é possível superar o medo da dor do parto e a transformar
sua experiência que, no futuro, será narrada como “um herói narra uma batalha”.
Essas mulheres são orientadas a dar o peito ao bebê na primeira hora de vida, pois
“enquanto a criança mama está em contato íntimo com o colo de sua mãe, sente
seu cheiro, seu calor, olha nos olhos, ouve sua voz e a batida do seu coração.
E a mãe está ali, quase num só corpo, dando o peito, o carinho, conversando,
acariciando, cantando e mantendo seu filho junto dela, fortalecendo os novos
laços que os manterão unidos. E ai se fortalece o coração por toda a vida”.
Essa mulher também precisa de apoio para superar
o cansaço físico, a insegurança, para dividir as novas responsabilidades sobre
o filho que não é só dela. A presença, a participação e o envolvimento do pai,
familiares e de pessoas próximas são de fundamental importância para obter sucesso
nesse período.
“A mãe que carrega seu filho no útero por 9
meses, no colo por 2 anos e no coração por toda a vida” é a mãe que queremos ver
na nossa sociedade. Que seus filhos tenham oportunidade para se desenvolverem
integralmente e crescerem mais seguros, tornando-se adolescentes saudáveis e
adultos comprometidos com a qualidade de vida.
O empenho de mulheres que se comprometem no
aprendizado do papel de mães deve ser reconhecido e valorizado como um
patrimônio social. É nisso que acreditamos!
Claudia
Carmona Slavez - Nutricionista do Banco de Leite Humano da Santa Casa de
Penápolis. Aluna do curso de Especialização em Promoção do Desenvolvimento
Infantil da Escola de Enfermagem da USP.
Maria Inês de
O. Peters – Psicóloga, Secretaria Executiva da Rede “Crianças amadas,
Adultos Seguros”. Aluna do curso de Especialização em Promoção do
Desenvolvimento Infantil da Escola de Enfermagem da USP.
Artigo publicado no jornal Diário de Penápolis em 13 de maio de 2012.
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